sábado, 30 de março de 2013

O Muro, a Lágrima e a Argamassa


Chegar ao ponto de descobrir quem você é exige uma construção diária no seu muro da verdade.

Fatos nem sempre são suficientes para encontrarmos nossa essência, uma vez que nem sempre damos a devida importância a certos acontecimentos cotidianos que classificamos como normais e meramente... cotidianos. Dada a devida negligência aos fatos, construímos uma mansão-mente protegida por uma murada-corpo sem a argamassa.

Há quem chame essa argamassa de deus, de deuses, de vida, de alma, de amor. Mas aqui se chama verdade. A preparação pode ser simples ou, dependendo do obreiro de sua vida, tem alguns atrasos na obra. Enfim.

Como fazer?
Cimento? Água?

Nada disso. Sua argamassa tem que ser rija o suficiente para que qualquer um que queira invadir sua mansão-mente esbarre no muro e encare a argamassa. Há quem queira trocá-la por outra. Trocar por uma que condiga com o padrão das argamassas das mansões-mente da elitizada vizinhança.

Mas como pode? É minha argamassa! Eu a preparei sozinho!
Mentira! Tive um auxílio.
A única ajuda veio dos meus olhos.
Deles caíram as lágrimas que emulsificaram a argamassa que mantem fortes meu muro-corpo e minha mansão-mente.

A elas eu escrevo na minha dedicatória e despedida.

Era uma vez...

Era uma vez um menino com um molho de chaves copiadas.
Era uma vez o dono das chaves originais.
- Mas como esse menino conseguiu tais chaves? Questiona o leitor curioso.
- Oxe! O dono deu, ué! Respondo tranquilamente.

Era uma vez uma sala.
Era uma vez o dono dessa sala: o mesmo dono das chaves.
A sala era grande como a mente humana.
Lá há muitas gavetas.

Era uma vez uma gaveta com um documento e um cadeado.
Era uma vez muitas gavetas.

 - Isso mesmo, leitor curioso! Cada chave abre uma gaveta! Exclamo.
 - Mas como saber qual chave abrirá a gaveta que desejar? Replica o leitor.
 - O dono sabe.
E para-se na  minha tréplica.

Era uma vez uma vez
Era uma vez muitas vezes.
Eram muitas vezes que os cadeados foram abertos.
E as gavetas também.
Eram muitas vezes que os cadeados foram abertos.
Mas as gavetas ainda estão fechadas.
E os documentos inexplorados.