sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A POMBA E A ÁRVORE DE BANGALORE


Mama é uma bela pomba.
De penugem já branca.
Que não é de vida longa,
mas de marcas de saúde manca.

Mama tem uma ninhada.
Ninhada de uma só prole.
Vivem juntas numa sacada.
Num arranha-céu em Bangalore.

Mama está doente.
Voa periodicamente ao pombo-pajé.
Nasce uma árvore em seu ventre
que a dói mais que um pontapé.

Pompo-pajé é inteligente.
Pombo-mor lhe deu um dom.
Cura muito pombo doente,
pois pombo-pajé é um pombo bom.

Mama e árvore não podem conviver.
Brigam duas almas por um só corpo.
Cada qual quer sobreviver.
Aplicando o seu máximo esforço.

Chega o dia final.
A briga chega enfim a um fim:
morre animal e vegetal.
Uma briga fatal.

Como se de camarote,
a prole de Mama observou tudo.
Viu que não tinha sorte.
Não tem mais mãe nesse mundo.

Mãe-Natureza revelou uma coisa
que nem pombo-pajé mesmo sabia.
Árvore sempre viveu a custa de alguma coisa.
E sem essa não sobreviveria.

Morre pássaro.
Morre árvore.
Vazia fica um jarro.
Vazia fica outra árvore [arranha-céu].

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Lágrimas Chuvosas

Oh, céu!
Pode chorar!
Derrama seu choro.

Encha os rios.
Lave as ruas da cidade.
Encha de alegria a vida sertaneja.
Lave minh'alma.

Chore até secar seu estoque de lágrimas chuvosas.
E assim, permita-me ver seu corpo.
Esse corpo azul que, se envergonhado, esconde-se nas nuvens.
E que à noite me banha com a luz de suas estrelas.

Chore, céu.
Pode chorar.
Também chorarei com você
E por você.

sábado, 11 de maio de 2013

Tempestade

Acordei
Comi
Vi
Mas não cri.

A realidade mais crua
Mais exata e cruel:
Uma nuvem que jamais vira em meu céu.
Ou será aquela coberta em seu véu?

Lutei
Briguei
Chorei
Até que a fonte das minhas lágrimas sequei.

A tempestade corria solta
Dei liberdade a ela
Alimentei um monstro.

Acordei no outro dia.
Enquanto fingia que comia
Minha comida fria,
Lá no mesmo céu eu via.

Aquela nuvem que outrora me assustava,
Não assusta mais.
Descobri que na minha vida ela estava.
E dela não sai mais.

Quero que a vejam.
Quero que a respeitem.
Mas enquanto não mostrar,
Não terão palavras para cravar.

Assim se acaba a tempestade,
Ou começa-se outra.


A Alma da Panda

Era uma vez uma Panda que estava à procura de seu Ying-yang de suas belas cores duais.
A lua, por sua vez, agraciada com a busca da Panda, lhe dá de presente uma estrela-guia, para que sua Pandinha não se perdesse do caminho do equilíbrio.
Esse estrela-guia tem uma cor: azul, da cor de sua alma.

domingo, 21 de abril de 2013

Basta!

Basta uma palavra.
Quem dirá a de uma vagaba!

Basta uma trança de um rasta.
Não basta um "Basta!".

Basta um dia.
Basta aquele grito que ardia.
Aquele mesmo grito que ainda arde.
Preso na garganta do covarde!

Basta um artista,
mas não basta um pacifista.
Basta aquela gente descente
que cresce em número e gente.

Nossas causas não têm vez.
As de Xuxa talvez.
As do Nordeste nem se ouve falar,
pois não é bom de se ouvir em pleno jantar.

Basta de nossa riqueza.
Riqueza de pobreza.
Riqueza de mazelas
e uma riqueza infinita de favelas.

Basta de só gritar "Basta!".
Basta de por a culpa só na política já gasta.
Basta de esconder suas culpas.
Basta de desculpas.



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Mestiço

Eu índio
Tu índias
Ele índia
Ela também índia
Nós indiamos
Vós indieis
Eles indiam
Elas também indiam

Sou Brasil, logo negro
Sou Brasil, logo branco
Sou Brasil, logo amarelo
Sou Brasil, logo índio
Sou Brasil, logo MESTIÇO.

sábado, 30 de março de 2013

O Muro, a Lágrima e a Argamassa


Chegar ao ponto de descobrir quem você é exige uma construção diária no seu muro da verdade.

Fatos nem sempre são suficientes para encontrarmos nossa essência, uma vez que nem sempre damos a devida importância a certos acontecimentos cotidianos que classificamos como normais e meramente... cotidianos. Dada a devida negligência aos fatos, construímos uma mansão-mente protegida por uma murada-corpo sem a argamassa.

Há quem chame essa argamassa de deus, de deuses, de vida, de alma, de amor. Mas aqui se chama verdade. A preparação pode ser simples ou, dependendo do obreiro de sua vida, tem alguns atrasos na obra. Enfim.

Como fazer?
Cimento? Água?

Nada disso. Sua argamassa tem que ser rija o suficiente para que qualquer um que queira invadir sua mansão-mente esbarre no muro e encare a argamassa. Há quem queira trocá-la por outra. Trocar por uma que condiga com o padrão das argamassas das mansões-mente da elitizada vizinhança.

Mas como pode? É minha argamassa! Eu a preparei sozinho!
Mentira! Tive um auxílio.
A única ajuda veio dos meus olhos.
Deles caíram as lágrimas que emulsificaram a argamassa que mantem fortes meu muro-corpo e minha mansão-mente.

A elas eu escrevo na minha dedicatória e despedida.